Daniel AlipertiGuru do PedalMecânica

Freios a disco – Parte II

Na primeira parte demos uma geral no sistema hidráulico e suas partes. Falamos sobre boas práticas, troca de pastilhas, tipos de pastilhas e ajuste básico da pinça em relação ao rotor.

Nesta última parte damos dicas para freios hidráulicos, orientações para alinhar um rotor empenado e passamos pelos freios mecânicos. Abordando troca de pastilhas, dicas sobre cabos e conduítes e ajuste básico da tensão dos cabos.

Limpar e lubrificar pistões
hidráulicos

Em algumas situações, após trocar as pastilhas e fazer todos os procedimentos indicados, pode ser que você se depare com uma pastilha trabalhando e a outra emperrada.

Este sintoma é causado por um pistão engripado, e pode ser resolvido em casa, na maioria das vezes. A causa do emperramento geralmente é a sujeira acumulada entre o pistão e a vedação.

Ferramentas necessárias:

1.Alicate de bico fino – para sacar e recolocar pastilhas e respectivas cupilhas de retenção, em alguns freios;

2.Chave Allen de 3 mm – para sacar o pino de retenção das pastilhas;

3.Espaçador de pistões ou espátula de remover pneu;

4.Toalhas de papel – para limpeza;

5.Haste flexível – para limpeza e lubrificação dos pistões;

6.Folha de lixa 150 – para recondicionamento das pastilhas;

7.Álcool isopropílico (num borrifador) – para limpeza;

1.Coloque a bike em um cavalete de reparos ou outro dispositivo similar. Remova a roda do freio a ser trabalhado e remova as pastilhas da pinça.

Lembramos que as superfícies de atrito devem ficar longe de contaminantes, como lubrificantes, gordura da pele e similares.

2. Aperte o manete até que um ou ambos os pistões fiquem expostos cerca de 3 a 4 milímetros.

Caso contrário você terá que sangrar o sistema na nossa oficina. Caso um dos pistões esteja emperrado, veja item 5.

3. Borrife álcool isopropílico e use cotonetes e toalhas de papel para limpar os pistões. E aplique um pouco de fluído de freio por toda a superfície exposta dos cilindros dos pistões.

4. Após a limpeza e lubrificação, retorne os pistões com uma ferramenta para pressionar pistões hidráulicos ou espátula para remover pneus.

5. Se apenas um pistão foi liberado ao apertar o manete, você pode tentar liberar o outro empurrando de volta, restringindo o seu movimento com a ferramenta escolhida enquanto aperta o manete novamente, forçando a saída do outro e após os passos de limpeza e lubrificação nesse pistão, e pressione-o de volta na pinça.

6. Esse é um bom momento para inspecionar as pastilhas. Se elas tiverem mais do que 1,5 mm de espessura (material de atrito), vale a pena reutilizá-las. Se estiverem vidradas, coloque uma folha de lixa 150 sobre uma superfície plana e lisa (granito, vidro, fórmica) e lixe levemente em movimentos circulares, checando constantemente para remover apenas o resíduo vidrado, nada mais.

Relembro que nada deve tocar a superfície de atrito além do rotor limpo e desengordurado.

Depois de dar esse trato nos pistões, use o espaçador de pistões apropriado para o seu freio e teste se eles estão devidamente recuados. Instale as pastilhas recuperadas ou novas e use a parte do espaçador que afasta e equaliza a abertura entre as pastilhas, para elas receberem o rotor. Com o espaçador das pastilhas no lugar, aperte o manete de freio e verifique se está tudo ok.


Pode ser que na primeira apertada o curso seja um pouco maior que o normal. Ele deve voltar ao normal na segunda ou terceira apertada. Se isso não acontecer, deve ter entrado ar no sistema quando os pistões
foram expostos para limpeza e você terá que consultar um dos nossos mecânicos para fazer uma sangria no sistema de freio.

Alinhamento do rotor

Agora que você revisou os pistões e as pastilhas, é hora de dar um trato no rotor (disco).
Cheque visualmente se ele apresenta algum desvio.

Muitos fatores levam ao empenamento do rotor: tombos, transporte ou armazenamento incorreto, protrusões na trilha e variação térmica.

Independente do que tenha causado o empenamento, cheque o aperto dos parafusos de fixação ao cubo e avalie sua condição antes de proceder o alinhamento. Se o rotor estiver muito empenado ou amassado (deformidade além de um mero desvio), a solução será a substituição por um novo. Estando o rotor em boas condições, apenas com um ou mais pequenos desvios, separe entre 20 e 30 minutos para resolver o problema, sabendo que irá exercitar a sua paciência.

Ferramentas necessárias:

  • Chave ajustável ou de alinhamento do rotor
  • Chave Torx 25
  • Álcool isopropílico
  • Toalha de papel
  • Caneta marcadora
  1. Com a roda bem encaixada, o rotor com os parafusos apertados (torque de 5 Nm) e a pinça teoricamente centrada em relação ao disco, cheque os pontos de atrito. Se não possuir um suporte próprio para mexer na bike, coloque uma forração no chão e apoie a bike de “cabeça para baixo”. Se trabalhar desta forma, lembre-se de remover os acessórios que podem se danificar, como computador, campainha, farol etc.
  2. Encontre o melhor método, que pode ser olhando dentro da pinça, escutando o atrito e olhando onde há contato ou usando uma caneta para ver e sentir o ponto do desvio. É possível que você tenha melhor visualização se colocar uma folha branca (toalha de papel ou papel sulfite) no chão, para refletir a luz. Identifique os pontos de atrito girando a roda lentamente e marcando o ponto do desvio com a caneta marcadora na borda do disco ou na pista de frenagem, caso a borda seja preta.
  3. Trabalhe com ferramentas desengorduradas. Ataque um desvio de cada vez, com calma. Tente aos poucos, sem colocar muita força, até chegar no melhor ajuste. Seções mais longas podem até ser corrigidas com os dedos, mas limpe o disco com álcool no fim da tarefa. Se preferir, use luvas de borracha nitrílica.
  4. Faça e refaça até conseguir o melhor resultado. A tolerância para desvio deve ser, no máximo, de 1 mm – o ideal é 0,5 mm ou menos.
  5. Ao finalizar, dê uma boa limpada nas duas pistas do disco com álcool isopropílico.

Freios a disco mecânicos

Na maioria dos sistemas, somente uma das pastilhas se move, mas existem modelos mais modernos em que ambas as pastilhas se movimentam. Não importa o nível de sofisticação, a mecânica é muito similar.

Diferentemente dos modelos hidráulicos, os pistões não se ajustam automaticamente com o desgaste das pastilhas e, portanto, precisam ser ajustados manualmente.

Dicas para o bom funcionamento dos freios mecânicos:

  1. Use cabos novos e de boa qualidade;
  2. Use conduítes de qualidade e com revestimento interno anti atrito . Existem modelos com a carcaça externa “compressionless” ou seja, não deformam com a tensão e transmitem melhor o esforço dos dedos para a pinça. São mais duros que os tradicionais, parecendo-se com os de câmbio, mas o interior têm maior diâmetro, para acomodar o cabo de freio;
  3. Dimensione os conduítes de maneira a eliminar excessos, mantendo as curvas suaves e permitindo a movimentação livre do guidão;
  4. Lubrifique os cabos com graxa pouco viscosa e de boa qualidade. Se possível, com aditivo de PTFE;
  5. Não estenda demais os ajustadores. Se isso aconteceu, é sinal de que as pastilhas estão muito gastas e um reajuste da posição do cabo no braço atuante é necessário, além do reposicionamento manual dos pistões.

Ferramentas necessárias:

Canivete multi função
  • Chaves Allen de 3, 4 e 5 mm – para ajuste da posição da pinça, dos cabos e dos pistões;
  • Alicate de bico fino – para trocar as pastilhas e puxar o cabo.
  1. Troca das pastilhas – Remova as pastilhas usadas, escolha as novas (conforme nossas dicas na primeira parte deste post) e reposicione os ajustadores de cabos e de distância das pastilhas, para acomodar as novas.
  2. Ajuste básico – Uma vez que as pastilhas novas foram instaladas, cheque o alinhamento do rotor e, em seguida, da pinça em relação a ele. Nos sistemas com uma pastilha estática, você terá que alinhar a pinça em relação ao rotor visualmente, sem ativar a manete do freio, como é feito no sistema hidráulico. Use a pastilha estática como referência.
    2.1. Comece soltando os parafusos que fixam a pinça. Solte apenas o suficiente, que permita a sua movimentação. Uma vez encontrada a melhor posição, aperte os parafusos e cheque o alinhamento. Caso necessário, repita a operação.
    2.2. Se o seu freio é do tipo que só uma pastilha se move, a ideia é acertar a pastilha estática primeiro, deixando o menor espaço possível entre a superfície de frenagem e o disco (de 0,5 mm a 1 mm) e melhor a frenagem.
    2.3. Após acertar a distância da pastilha estática, acerte a distância da pastilha móvel, deixando um vão de aproximadamente 1 mm.
    2.4. Teste o freio apertando o manete com vigor, como se estivesse numa freada de emergência. Observe o curso do manete e ajuste conforme a sua preferência.

Como referência, você pode usar um cartão de visita para determinar espaço.
Para acertar a distância, em alguns freios utiliza-se chave Allen; em outros, apenas um ajustador rotativo acionado com os dedos. Nesse tipo de freio é normal uma leve flexão do rotor durante a frenagem, mas quanto menos, melhor para o sistema.

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