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Quando devo levar minha bike na oficina?

Essa é uma pergunta que ouvimos com frequência. Diferente de um carro ou uma moto, a bike tem uma mecânica mais simples, delicada e exigente. Grande parte do seu funcionamento fica exposto às condições climáticas, e quantas horas de pedal você tem em cima da bike. Especialmente as de alta performance demandam diligência, ainda mais as que são utilizadas em treinos e competições. Aqui vamos explicar os intervalos de manutenção na oficina, e colocar algumas perguntas que te auxiliem neste processo.

Primeiros 15 dias de uma bike 0km

  1. Limpeza, se necessário.Sua bicicleta está com poeira? Graxa preta acumulada? Terra, ou areia? Suor seco no quadro? Uma bike limpa, é uma bike pronta para a revisão e o próximo rolê!
  2. Reaperto geral– guidão, mesa, canote – especialmente a fixação do selim, pinças e rotores de freio, pedivela, pedais, cassete, coroas, câmbios, polias de câmbio, raios, cubos e suportes de garrafa, bomba e sensores de computador. Sempre cheque o torque específico da sua bicicleta de acordo com as especificações do fabricante. Um torquímetro ajuda bastante nesta função, e para algumas partes da bicicleta é essencial!
  3. Revisão no funcionamento dos câmbios. Sua marcha está pulando, ou fazendo um barulho estranho? Está mudando a cada click quando você aciona a troca de marcha?
  4. Revisão no funcionamento dos freios. Seu freio está funcionando? Está acionando a parada de cada roda?
  5. Revisão no alinhamento das rodas. Suas rodas estão rodando livres, ou parando sem que acione os freios? Estão retílineas ao rodar?
  6. Verificação do ajuste dos rolamentos da caixa de direção, dos cubos e movimento central. Você sente alguma folga nestas articulações? Há algum barulho estranho? Está parecendo que tem areia nos rolamentos, ou todos os lugares que tem rolamentos estão se movimentando suavemente?
  7. Verificação da pressão das suspensões, em modelos com amortecedores de mola pneumática. Nisto é sempre bom usar uma bomba de suspensão, e sentir se a bike está se comportando como antes. No site da Specialized Brasil, você tem um ‘Simulador de Suspensão’ para te auxiliar no processo. Se a sua bicicleta for de outra marca, ou você customizou o seu setup, veja os manuais disponíveis online para um processo mais assertivo.
5. Checando o alinhamento da roda no stand.

A cada 2 meses

  1. Limpeza. Este item é fundamental para uma boa inspeção da bicicleta. É mais fácil identificar o que está bom numa bike limpa do que numa bike suja.
  2. Repetir os itens da primeira revisão e adicionar as seguintes tarefas.
  3. Numa MTB, se tiver pedalado sob muita chuva ou lama, revisar a limpeza e lubrificação dos componentes internos deslizantes do garfo (não o sistema de amortecimento ou mola pneumática). A frequência recomendada é após 25 horas de trilhas. Se você não tiver a expertise ou ferramentas para fazer isto, é sempre bom checar um serviço ou loja especializada para isto.
  4. Se a sua bicicleta possuir uma suspensão traseira, aproveite e cheque as articulações da balança traseira. Nesse interim, re-lubrifique e verifique o seu aperto correto. Muitas vezes, as bicicletas indicam a força que deve ser aplicada em seus parafusos.
  5. Numa bicicleta de Estrada, se tiver pedalado sob muita chuva, checar as condições e a lubrificação dos cubos, pedais, movimento central e caixa de direção.
  6. Checar pneus e avaliar a necessidade de troca. Uma verificação importante é sobre a integridade da carcaça. Existem cortes ou anomalias que possam comprometer o funcionamento e segurança do pneu?
    • No pneu de estrada (liso)- como está o formato do pneu? Ele preserva o formato arredondado na banda de rodagem, ou essa parece achatada? Se o formato estiver achatado, é provável que esteja bem gasto e precise trocá-lo.
    • No pneu de MTB – é importante que os cravos mantenham suas bordas afiadas. Quando elas estão muito arredondadas por desgate, ou estão faltando cravos, já está na hora de substituí-lo.
  7. Checar sapatas ou pastilhas de freio e substituir pelo modelo correto (composto da pastilha ou sapata conforme a utilização ou tipo de aro). Estão gastas? Como está o funcionamento do seu freio?
  8. Checar desgaste da corrente e substituir caso necessário. A melhor forma de fazer isto é com uma ferramenta chamada ‘medidor de desgaste de corrente’. Isso é muito importante pois uma corrente desgastada prejudica a precisão das trocas de marchas, e acelera o desgaste das engrenagens da transmissão (pinhões e coroas). É muito mais econômico substituir apenas a corrente, periodicamente, do que a transmissão completa prematuramente.
  9. Checar lubrificação dos rolamentos das polias de câmbio.
  10. Checar tensão dos raios de ambas as rodas e verificar seu alinhamento. Um ‘medidor de tensão dos raios’ é uma ferramenta mais precisa para esta tarefa, e é indispensável ter um ‘Alinhador e Centrador de Rodas’ para conferir se os aros permanecem retílineos quando em movimento.

A cada 6 meses

  1. Limpeza. Re-veja o item no topo da seção ‘A cada 2 meses’.
  2. Além dos itens da revisão bimestral, siga também as tarefas mencionadas abaixo.
  3. Revisão, troca de fluído e sangria dos freios hidráulicos. Conforme a necessidade, substituir reparos do sistema (anéis de vedação, molas, retentores, ferragens). Nós recomendamos que esta tarefa seja feita por um mecânico especializado.
  4. Revisão de 50h das suspensões (inspeção e re-lubrificação completa das partes da suspensão). As lubrificações e reparos internos das suspensões tem um prazo de validade e ele deve ser respeitado para manter o máximo desempenho e evitar desgaste precoce. Recomendamos que isto também seja feito por um especialista no assunto.
  5. Substituição do conduíte de cabo de câmbio entre o quadro e o câmbio traseiro.
  6. Verificação das polias de câmbio – desgaste das engrenagens e rolamentos.
  7. Limpeza e lubrificação de todos os rolamentos (caixa de direção, cubos, roda livre, movimento central, articulações da balança, pedais).
  8. Checar desgaste da corrente e substituir caso necessário. Da mesma forma e com ferramentas mencionadas no seção ‘A cada 2 meses’.

Uma vez por ano

  1. Além dos itens da revisão Semestral, adicione:
  2. Trocar todos os cabos e conduítes.
  3. Trocar a raiação da roda traseira, caso tenha utilizado a mesma o ano todo e com frequência elevada. Os raios, assim como a corrente, são partes muito solicitadas durante o pedal e sofrem fadiga exigindo sua substituição. E porque a roda traseira sofre tanto e necessita mais atenção? Primeiro, ela suporta mais peso do que a roda dianteira suportando maior parte do peso do ciclista; recebe mais impactos de buracos, saltos e obstáculos; e está em constante solicitação pelas forças provenientes da transmissão.
  4. Trocar rolamentos do movimento central.
  5. Inspecionar e substituir componentes da transmissão caso necessário.
  6. Remover o canote de selim, limpar e reinstalar – canote de carbono em qualquer quadro deve ser montado com pasta de fricção apropriada, canote de metal em quadro de metal deve usar graxa, canote de metal em quadro de carbono deve ser instalado com pasta de fricção.
  7. Se usar um canote telescópico/retrátil (dropper), fazer a revisão completa dele por um mecânico especializado.
  8. Revisão de 100 horas das suspensões (inspeção e revisão completa de todas as partes da suspensão). Esta revisão costuma ser feita em um centro de serviço da marca do amortecedor (varia de marca para marca) e pode levar até 2 semanas para ser realizada. Está revisão é mais minuciosa e exige ferramental, equipamento e peças de reposição específicos. Porque dar atenção a esta revisão de 100 horas ? A suspensão sofre desgaste durante o uso, e se não for cuidada apropriadamente pode apresentar mau funcionamento ou falha. Se você for negligente com a manutenção destas partes, as falhas destes produtos não serão cobertas pela garantia do fabricante.
  9. Inspecionar cada milímetro do quadro para identificar anomalias. Alguma lasca ou risco profundo na pintura? Amassado em quadros de alumínio? Fissuras no quadro? Este item é muito importante para sua segurança durante as pedaladas, pois um amassado, um risco profundo, e no pior dos casos uma trinca podem levar a uma falha catastófrica como a quebra do quadro.
  10. Retocar a pintura. Primeiro que isto deixa a sua bike mais sexy, renovada. E o mais importante – isto diminui o valor de depreciação da sua bicicleta, caso queira revendê-la.
  11. Trocar fita do guidão ou manoplas. Este é um dos pontos de contato com suas mãos e é bom que estejam em ordem para seu conforto e boa estética da bike (especialmente no caso de revenda). No MTB – ter manoplas com os lados comidos, e às vezes com o guidão e a parte oca expostos pode ser muito perigoso no caso de um acidente. Na bike de estrada, ter a fita de guidão em ordem é uma forma de absorver o suor, preservar o conforto e uma ótima chance de inspecionar as partes do guidão que ficam sob elas. O acúmulo de suor entre a fita e o guidão de alumínio pode causar corrosão a ponto de comprometer a estrutura da peça.
Ferramentas específicas ajudam muito nestes processos. (Foto: Nicolas Aliperti / @nickraliperti)

Todos estes itens vão depender das horas pedaladas, o tipo de uso que você faz da sua bicicleta (competição, treinos, condições climáticas), e seu conhecimento sobre mecânica. Estas listas já são um ótimo ponto de partida para você manter sua bike em ordem. No ciclismo, de estrada pavimentada a trilhas na terra, a otimização do seu pedal se dá a partir da sua nutrição e a manutenção do seu corpo em união com o funcionamento da sua bicicleta. Quanto melhor estas partes estiverem funcionando, melhor será o seu desempenho, a sua diversão, e a sua longevidade neste esporte.

Outra dica: ferramentas específicas para bicicletas ajudam muito a resolver o cuidado com delas de forma prazerosa. É muito bom estar atento aos produtos que você utiliza para a manutenção da sua bike. Especialmente as de alto calibre (de competição) demandam produtos específicos como um lubrificante de alta qualidade, ou a pasta de fricção para quadro de carbono, que foi mencionada acima. Nesse sentido, muitas marcas vendem produtos específicos para o uso na bicicleta, e normalmente são as que estão mais de acordo com os requisitos dos fabricantes de quadros e peças.

Já no quesito limpeza, é sempre mais gratificante ir com um detergente biodegradável, e utilizar escovas específicas para este serviço. Isso faz com que a limpeza seja mais dinâmica. Mesmo que não tenha estes produtos – não deixe de limpar sua bike ! Uma esponja branca e amarela, um balde, uma escova de cozinha e de dente, detergente de cozinha, e alguns panos, já ajudam bastante neste processo de limpeza.

Agora, na Pedal Power prezamos por um serviço de excelência quando deixam a bicicleta conosco, efetuando manutenções de acordo com a demanda do cliente e oferecendo serviços de limpeza da bike. Bem como oferececemos cursos de mecânica mensalmente, para que você possa desbravar este mundo da mecânica! Outra opção é também o canal do nosso mecânico Gui, ele dá ótimas dicas pelo seu instagram @bike_tips , e seus vídeos para o MTB90.

Um dos nossos mecânicos Guilherme Passos para a MTB90.

Qualquer dúvida ou item que não entendeu, é bom checar com um especialista, ou comente por aqui! Os itens neste artigo e buscas na internet já te dão algum conhecimento, mas nada como o olhar de um mecânico que está com a prática em dia!

Escrito por: Daniel Aliperti

Organização, Revisão e Contribuições de: Laura Aliperti

Fotos: Carolina Rombauer e Nicolas Aliperti

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